Amoral

Em todos os tempos se quis “melhorar” os homens: é isso que, antes de tudo, foi chamada moral. Mas sob esta mesma palavra “moral” se ocultam as tendências mais diversas. A domesticação do animal humano, bem como a criação de uma espécie determinada de homens, são um “melhoramento”: esses termos zoológicos exprimem unicamente realidades – mas essas são realidades de que o melhorador-tipo, o sacerdote, não sabe nada de fato – de que não quer nada saber... Chamar “melhoramento” a domesticação de um animal soa a nossos ouvidos quase como uma brincadeira. Quem sabe o que acontece nos estábulos, duvido muito que o animal seja neles “melhorado”. É debilitado, é tornado menos perigoso, pelo sentimento depressivo do medo, pela dor e pelas feridas se faz dele um animal doente. – Não acontece outra coisa com o homem domesticado, que o sacerdote tornou “melhor”. (...) Para falar em termos fisiológicos: na luta com o animal, torna-lo doente é talvez o único meio de enfraquecê-lo. A Igreja compreendeu isso perfeitamente: ela perverteu o homem, tornou-o fraco – mas ela reivindicou o mérito de tê-lo tornado “melhor”.
Trecho de Crepúsculo dos Ídolos ou como filosofar a marteladas – Nietzsche (página 53)


Andarilho, quem és tu? Vejo-te seguir o teu caminho sem escárnio, sem amor, com olhar indefinido, úmido e triste, como uma sonda que, insaciada, volta de todas as profundidades novamente à luz. O que será que ela procurava lá embaixo? Tens um peito que não suspira, lábios que escondem o seu nojo, mão que já só lentamente agarra. Quem és tu? Que fizeste? Descansa aqui. Este lugar é hospitaleiro para qualquer um. Restabelece-te! Não importa quem sejas: o que te agrada agora? O que serve para te reconfortar? Basta que o digas. Ofereço-te tudo que tiver!
“Para me reconfortar? Para me reconfortar? Ó tu, curioso, que estás a dizer! Mas dá-me, peço - - “
O quê? O quê? Di-lo!
“Mais uma máscara! Uma segunda máscara!”...
Trecho de Para além do bem e do mal – Nietzsche (página 202)

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