Carnaval

Texto da peça "Amoradores de Rua" (cena 7)
Pelo ator Adriano Petermann


Então o Carnaval vem do tempo dos homens primeiros aqueles que cantavam e dançavam sem nenhum pudor então eles cantavam e dançavam e rodavam e se travestiam para tentar atingir um instante de vertigem um momento de todo mundo girando para que eles pudessem sair de si e experimentar um pouco mais do outro e experimentando o outro eles pudessem gozar da carne do ócio do ópio do álcool do sexo da violência e de tudo aquilo que oprime de tudo que é agonia o Carnaval não é o final é o início é o capricho é o poder é ir além é não ter medo de comer o cú é não ter medo de dar o cú é não ter medo do torpor é não ter medo do vício é desaparecer na multidão é todo mundo pulando juntinho pipocando acentuando é porra voando e fecundando o chão os homens os deuses e tudo que ali existe o sol a lua o som a luz as estrelas o céu as nuvens tudo tudo tudo tem fumaça então o carnaval é feito cachaça é feito pau cú buceta efeito ópio é a desgraça para atingir a graça é pipoca pulando numa panela suja de óleo diesel é lama lama lama lama até dentro do rabo nas orelhas no couro cabeludo é isso que eu quero é isso que eu busco neste carnaval tudo de bem e de mal um entrando no outro e virando bicho para que então possamos ver como bichos cheirar como bichos comer como bichos sentir como bichos e ser bichos para que talvez então retornemos ao animal que já fomos um dia para poder brincar um carnaval feito gente grande aí então serei eu só só eu e ninguém mais eu e meus instintos eu e meus desejos eu solto no mundo eu louco de pedra aí meu mundo é meu aí meu mundo me entendeu só eu aí na rua aí no mundo e não mais aquele escravo do próprio conforto de não ser ninguém porque ninguém chama mais atenção eu não eu não eu prefiro assim eu na contra mão prestes a me espatifar em um trem automóvel ou caminhão para então morrer e nascer e renascer todos os dias da minha vida o carnaval é um rasgo no tempo e no espaço tudo é possível não há Deus tudo é possível aí eu tipo assim um saci uma lenda aí então eu atingi o cume eu atingi o cume só o cume interessa aí então tudo de novo tudo igual até o próximo carnaval tipo pedal de bicicleta que vai girando girando girando girando girando até te secar secar teu líquido teus sais mineirais até você virar caveira e caveira é carbono e com carbono se indentifica se qualifica se quantifica se alivia alívio alívio alívio


Obrigado por terem vindo a este encontro entre os visíveis e os invisíveis.
Muito Obrigado!

Um comentário:

Coisas de uma flor de Liz... disse...

Meu preferido!!adoro..
saudadessssss....

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