Nascimento

Texto da peça "Amoradores de Rua" (cena 1)
Pelo ator Adriano Petermann

Obrigado por terem vindo a este encontro entre os visíveis e os invisíveis.
O espírito deste encontro é a Coragem, Liberdade e Alegria.
O propósito é divertir e fazer o que pensar.

Reconhecimento

Texto da peça "Amoradores de Rua" (cena 2)
Pelo ator Diego Marchioro


Tupi or not Tupi
Essa é a minha voz! Essa é a minha voz!
Minha voz! Essa é a minha voz!
Brasil. Coragem. Tira a camisa Brasil
Só a consciência nos une. Vamos transgredir!
Chega de Homofobia Cordial! Vamos transgredir!
Vamos transformar o tabu em totem!
A cada gesto amoroso nosso. Verdadeiro.
A cada ejaculação prazerosa que nos escapa.
Trata-se de uma afirmação do nosso amor. Contra tudo e todos.
Dessa conquista grandiosa temos orgulho
A transfiguração do tabu em totem
Essa é a minha voz! Minha voz!
Brasil Coragem. Brasil
Contra o mundo reversível e as idéias objetivadas
Política é a ciência da distribuição. Brasil!
A favor de um sistema social planetário
Mais fortes são os poderes do povo
Eu tiro minha camisa para você. E você, tira sua camisa para mim?
Eu não tenho nada, eu valorizo o que eu tenho. Saúde. Brasil. Coragem. Brasil
Contra a realidade social vestida e opressora cadastrada por Freud.
A realidade sem complexos,
Sem culpa, sem loucura, sem prostituições, sem penitenciária do matriarcado.
Brasil!
Eu me reconheço você se reconhece?
Sou preto, branco, verde, vermelho, marrom.
Tudo. Todos em si ninguém.
Transformemos o tabu em totem
Brasil. Coragem

Matilha

Texto da peça "Amoradores de Rua" (cena 3)
Pela atriz Martina Gallarza


Contra o mundo reversível e as idéias objetivadas e cadaverizadas.
Contra o stop do pensamento que é dinâmico.
O indivíduo vítima do sistema.
Fonte das injustiças clássicas e das insjustiças românticas.
E o esquecimento das conquistas interiores.

A unha?
É vermelho Sangueseco.
Tenho varizes nas pernas.

O pau no cú chupa buceta
mas gosta de pau.
gosta sim!
não só de pau
mas de verdura também,
as vezes ele pede
as vezes ele traz!

A cadela que pariu escondeu a cria.
Em que favela em que ruela?
Sumiu com eles pra viver sua vida de cadela.
A cria não se cria.
As tetas da Cadela são oito
E não dão pra doze.
Mas a cadela amamenta doze.

O bebe morreu!
Joguei no vazo, caguei, sangrei
Vomitei ele também
Me dá a coleira!

Gosto de sapatos...

Cadê os ratos de Curitiba?
Os ratos de Curitiba
Estão entre as putas do passeio
E da treze de maio.
Eles são como elas,
Eles são iguais aos cães da matilha da praça 19
Eles são os moradores da rua
O taxista quem disse!
É ele quem da comida pros pombos
Que cagam as sementes nas terras adubadas
Dos vasos das sacadas do centro da cidade

Arrasto meias arrastão!
Arrasto meias arrastão!

Eu queria dormir na grama fria
Mas é lua cheia. É cio!
Fodeu!
Os machos cão querem foder o cuzinho delas
A mãe das putas repousa agora medicada.
Perdeu a calcinha...
E o vestido da noiva? Agora é lixo!

E tudo isso são os homens!
Os impares, os trocadilo, os espertos ao contrario!
Solução social é o caralho!
Nada diminui a violência entre os homens.
Nenhum sentido em pintar de cor de rosa as unhas dos cães.

ISSO AQUI É A CASA DO CARALHO!!!!!!!!!!!!!!!!

Contra a memória fonte do costume.
A experiência pessoal renovada.
Somos concretistas.
As idéias tomam conta, reagem, queimam gente nas praças públicas.
Acreditar nos sinais, acreditar nos instrumentos e nas estrelas.

Inferno

Texto da peça "Amoradores de Rua" (cena 4)
Pelo ator Marcel Szymanski


Brasil – Vai tomar no cú!!!

Sinto o cheiro, sinto o cheiro, sinto o cheiro, sinto o cheiro, sinto o fedor.
Filho da puta de quem vê a vida na horizontal.
A mentira tem perna bonita: quanto mais parece, mais parece e menos é.
Se ele é por nós, nós estamos fudidos!
Onde quer que haja a palavra divina, há de haver inferno!

Senhores não se encham de ilusão, o homem vive só de podridão!
Senhores não se encham de ilusão, o homem vive só de podridão!

Que bom seria se fôssemos todos merda! Talvez não sentiríamos essa dor no cú!
Silêncio!!!
O silêncio, é tão frio quanto o inferno da vida.
O inferno é, o inferno é, o inferno é, o inferno é, o inferno é, o inferno é, o inferno é,
O inferno... é o inferno!!!

Senhores não se encham de ilusão, o homem vive só de podridão!
Senhores não se encham de ilusão, o homem vive só de podridão!

Onde está o dedo dele? Um olho aberto e outro fechado pro mundo. Vendo minha alma, mas não meu pensamento.

Senhores não se encham de ilusão, o homem vive só de podridão!
Senhores não se encham de ilusão, o homem vive só de podridão!

Agora resumindo, pra fechar a idéia: filho da puta de quem vê a vida na horizontal! Se ele é por nós, nós estamos fudidos! O inferno é o inferno! E não vou nem falar do céu, porque isso não me cabe. Vendo minha alma, mas não meu pensamento.
Nunca fomos catequizados, vivemos através de um direito sonâmbulo.
Nunca fomos catequizados, fizemos foi carnaval: o índio vestido de senador do império, cheio de bons sentimentos portugueses. A nossa independência ainda não foi proclamada.
Muita saúva e pouca saúde, é disso que o Brasil padece.
E pra quem ainda não experimentou: vai tomar no cú!!!

Coro – Vai tomar no cú, bem no meio do olho do seu cú!

Céu

Texto da peça "Amoradores de Rua" (cena 5)
Pelo ator Felipe de Souza


“Zaratustra, porém, ao ficar sozinho falou assim ao seu coração: Será que este santo ancião ainda não ouviu que Deus já morreu?”

Eu Deus. Eu tudo. Eu Feliz. Eu livre. Eu superman. Vai toma no cú! Eu foi. Eu vacinas. Eu céu. Eu chuva. Eu voz. Eu morte. Eu mentiras. Eu salvação. Eu desesperados. Eu mortes. Eu comida. Eu amores. Eu fraco. Eu frágil. Todos. Forte Super-homem.

“Ai Meu irmãos! Este Deus que eu criei era obra humana e humano delírio, como os demais Deuses.”

Faca faca corta carne, faca segue, faca sangue, faca calor, faca quente, faca mata, faca morre, faca cabo, acabo, a faca corta.

“Contra as sublisblimações antagônicas trazidas nas caravelas, a verdade dos povos missionários, definida pela sagacidade de um antropófago, é mentira muitas vezes repetida...”

A certeza é que do céu vem chuva, molha depois seca, volta tudo quase igual, se não fossem as peculiaridades dos instantes que processam as coisas no tempo o tempo o tempo esse que é o nó, nó, nó, nó, nó nó, nó...

Purificação

Texto da peça "Amoradores de Rua" (cena 6)
Pelo ator Maurício Vogue

(Marcel)
Limpa a sujeira da barriga do homem que não consegue mais ser ele mesmo, porque assim começa a vida!

(Martina)
Aqui o sagrado é como o nada.
O nada, limpa a alma
Para significar a rua de cada dia.

(Felipe)
Limpa, limpa, limpa, a sujeira da tua poesia que já não fala mais nada pra ninguém.

(Diego)
Estamos despidos do complexo de inferioridade do mundo.
Chega de homofobia cordial.

(Adriano)
Livres dos pestiches das modas artísticas do mundo afluente. Estamos inocentes no estado bruto da criação.

(Todos)
Só a antropofagia nos une. Socialmente, economicamente, filosoficamente. Única lei do mundo. Expressão mascarada de todos os individualismos, de todos os coletivismos. De todas as religiões. De todos os tratados de paz.
Tupi, or not tupi that is the question.

Carnaval

Texto da peça "Amoradores de Rua" (cena 7)
Pelo ator Adriano Petermann


Então o Carnaval vem do tempo dos homens primeiros aqueles que cantavam e dançavam sem nenhum pudor então eles cantavam e dançavam e rodavam e se travestiam para tentar atingir um instante de vertigem um momento de todo mundo girando para que eles pudessem sair de si e experimentar um pouco mais do outro e experimentando o outro eles pudessem gozar da carne do ócio do ópio do álcool do sexo da violência e de tudo aquilo que oprime de tudo que é agonia o Carnaval não é o final é o início é o capricho é o poder é ir além é não ter medo de comer o cú é não ter medo de dar o cú é não ter medo do torpor é não ter medo do vício é desaparecer na multidão é todo mundo pulando juntinho pipocando acentuando é porra voando e fecundando o chão os homens os deuses e tudo que ali existe o sol a lua o som a luz as estrelas o céu as nuvens tudo tudo tudo tem fumaça então o carnaval é feito cachaça é feito pau cú buceta efeito ópio é a desgraça para atingir a graça é pipoca pulando numa panela suja de óleo diesel é lama lama lama lama até dentro do rabo nas orelhas no couro cabeludo é isso que eu quero é isso que eu busco neste carnaval tudo de bem e de mal um entrando no outro e virando bicho para que então possamos ver como bichos cheirar como bichos comer como bichos sentir como bichos e ser bichos para que talvez então retornemos ao animal que já fomos um dia para poder brincar um carnaval feito gente grande aí então serei eu só só eu e ninguém mais eu e meus instintos eu e meus desejos eu solto no mundo eu louco de pedra aí meu mundo é meu aí meu mundo me entendeu só eu aí na rua aí no mundo e não mais aquele escravo do próprio conforto de não ser ninguém porque ninguém chama mais atenção eu não eu não eu prefiro assim eu na contra mão prestes a me espatifar em um trem automóvel ou caminhão para então morrer e nascer e renascer todos os dias da minha vida o carnaval é um rasgo no tempo e no espaço tudo é possível não há Deus tudo é possível aí eu tipo assim um saci uma lenda aí então eu atingi o cume eu atingi o cume só o cume interessa aí então tudo de novo tudo igual até o próximo carnaval tipo pedal de bicicleta que vai girando girando girando girando girando até te secar secar teu líquido teus sais mineirais até você virar caveira e caveira é carbono e com carbono se indentifica se qualifica se quantifica se alivia alívio alívio alívio


Obrigado por terem vindo a este encontro entre os visíveis e os invisíveis.
Muito Obrigado!